quinta-feira, julho 06, 2017

*MEU DESERTO MEU CHÃO



Meu Deserto, Meu Chão.

Passei as primaveras sem colher
As flores esmaecidas murcharam
Quando as olhei num entardecer
Não mais sorriram, oh, amarelaram.

Olhei o espelho, o deserto na mira
Pegadas firmes, sonho ventureiro
Como enganar sem marcas curupira
A esperança com o fito primeiro

Revirei páginas folheei o tempo
Horas regando os rijos segundos
Em cada despertar em passatempo

A máquina não carecia de conserto
Não havia no cofre capital, fundos
Apenas a canção aspirando acerto.

Nas teclas tristes da rude mensagem
Desviei o piano em pleno concerto
Da inadequação de sons miragens.

Escrava do porvir tracei rabiscos
A mão ingrata descoloriu a tela
Dispersa na emoção e tons ariscos
Perdida a direção à emoção duela.

Mesmo que a tinta roube o tinteiro
Na cor descolorida e na alma nua
A vida caminha no sonho arteiro.

Posso colher agora é só querer
Em cada alvorecer de olhar veleiro
Barca e vontade rumam ao estaleiro

Passei as primaveras sem colher.
***

Selecionada nos cinco primeiros colocados
na VII coletânea Século XXI 2017 - PoeArt.
organizador Jean Carlos