Meu Deserto, Meu Chão.
Passei as primaveras sem colher
As flores esmaecidas murcharam
Quando as olhei num entardecer
Não mais sorriram, oh, amarelaram.
Olhei o espelho, o deserto na mira
Pegadas firmes, sonho ventureiro
Como enganar sem marcas curupira
A esperança com o fito primeiro
Revirei páginas folheei o tempo
Horas regando os rijos segundos
Em cada despertar em passatempo
A máquina não carecia de conserto
Não havia no cofre capital, fundos
Apenas a canção aspirando acerto.
Nas teclas tristes da rude mensagem
Desviei o piano em pleno concerto
Da inadequação de sons miragens.
Escrava do porvir tracei rabiscos
A mão ingrata descoloriu a tela
Dispersa na emoção e tons ariscos
Perdida a direção à emoção duela.
Mesmo que a tinta roube o tinteiro
Na cor descolorida e na alma nua
A vida caminha no sonho arteiro.
Posso colher agora é só querer
Em cada alvorecer de olhar veleiro
Barca e vontade rumam ao estaleiro
Passei as primaveras sem colher.
***
Selecionada nos cinco primeiros colocados
na VII coletânea Século XXI 2017 - PoeArt.
organizador Jean Carlos
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